Adolfo Kaminsky: O Falsificador

Adolfo Kaminsky, judeu russo de nacionalidade argentina, tinha 17 anos quando foi despejado de casa, com a família, e enviado para o campo de concentração de Drancy. Os seus passaportes argentinos garantiriam à família Kaminsky a libertação deste campo, salvando-os, por uma questão de horas, da deportação para Auschwitz.
Já com a fuga de França marcada, Kaminsky é recrutado pela 6ª, o braço secreto do UGIF, onde se tornaria o mais jovem falsificador ao serviço da Resistência francesa e onde o seu trabalho garantiria salvo-conduto a milhares de judeus nos últimos anos da Segunda Guerra Mundial.

Após a tomada de Paris, Kaminsky é recrutado pelos serviços secretos franceses, que abandona aquando da Guerra da Indochina. Regressado à clandestinidade, nas décadas seguintes viria a colaborar com a resistência antifranquista, com resistente gregos contra a ditadura dos coronéis, com antissalazaristas em Portugal, com a Frente Nacional de Libertação da Argélia, com objetores de consciência norte-americanos durante a Guerra do Vietname, com vários movimentos de esquerda na América do Sul e com diversos movimentos independentistas africanos (Guiné, Guiné-Bissau, Angola e África do Sul). Kaminsky nunca aceitou dinheiro pelo seu trabalho de falsificador, recusando tornar-se um mercenário e comprometer os ideais maiores de liberdade e dignidade humana que o guiavam. Esta é a história de um verdadeiro herói.

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Opinião sobre o livro “Jogos Perigosos”

Olá meus amores, não sei se me seguem no instagram, mas como já vos disse por lá a minha opinião sobre este livro não foi sempre constante.

Comecei a le-lo e logo nas primeiras páginas adorei a história, ou aquilo que imaginei que fosse ser a história. A certa altura senti que o enredo não desenrolava e não estava a conseguir perceber o porquê de tanto vai e vem, haveria assim tanto em jogo que fosse impedimento para aquilo que parecia puro amor? Haveria alguma coisa por trás da história principal que eu não estivesse a perceber? Certamente que sim.

Este romance, aparentemente simples, retrata uma série de problemas sociais que estão extremamente presentes no nosso dia-a-dia, mas que por vezes tendemos a ignora-los, ainda que inocentemente. Ele fala-nos do bullying e das brincadeiras sem noção que exercem nas praxes dos colégios e faculdades, do pouco reconhecimento/valorização do potencial dos filhos por parte dos próprios pais e da busca constante de aceitação, do preconceito sentido na classe trabalhadora exercido pelos membros da Classe A (como a denominamos no tempo moderno), de diferenças entre géneros no setor financeiro e, além de todos estes problemas sociais, fala-nos de vingança, de ódio, de rancor e mágoa, mas acima de tudo de superação e amor. Como pode um livro de aproximadamente 500 páginas abranger tantas falhas sociais?

As personagens são deliciosamente completas e interessantes. Natalia De la Grip, uma jovem atraente filha do maior empresário da Suécia, Gustaf De la Grip e, herdeira de parte da Investum. Apesar da imensa aptidão que Natália possui para os negócios, o seu pai não aceita que uma mulher possa ter um cargo superior na área financeira e empresarial, pelo que a exclui dos assuntos relacionados com a empresa da família.

David Hammar, um homem de uma beleza sem igual, confiante, atento, sábio, multimilionário e infalível no seu trabalho, guarda consigo uma mágoa e um rancor imenso e prepara-se para o maior golpe da história empresarial da Suécia: detonar a Investum e a família De la Grip, vingando-se finalmente de algo que o atormenta há décadas.

À medida que a história se vai desenrolando, inúmeras revelações se vão sucedendo e o mundo de David e de Natalia fica completamente virado do avesso e ambos se vêm em situações que nunca antes acharam possíveis. Quando eu me comecei a aperceber de tudo o que está a ser revelado e do motivo central, que gerou tudo aquilo, passados tantos anos, senti que por breves instantes o meu coração parou. É de facto uma história muito emocionante e que nos surpreende imenso.

Este foi o primeiro Romance Moderno da autora e acho que ela está de parabéns. De facto é um grande livro, muito bem escrito, com muito requinte, que nos faz perceber um pouquinho mais sobre o funcionamento do setor empresarial e financeiro e com uma história de se lhe tirar o chapéu. Recomendo seriamente que leiam este livro e que se apaixonem por ele, como eu me apaixonei.

Deixo-vos por fim, a minha quote preferida deste livro : “Viver sem correr riscos, não é viver”

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“A Cidade das Mulheres”, um livro no feminino

ENTRE PÁGINAS

17 Julho, 202

A Cidade das Mulheres” era talvez o livro mais aguardado do ano (pelo menos para mim). A Elizabeth Gilbert foi a autora do livro “Comer, Orar e Amar” que se tornou um bestseller em vários países do mundo e deu depois origem a um filme com tanto sucesso como o livro. A questão é que depois de qualquer escritor lançar um livro com tanto sucesso, pode-se tornar difícil corresponder às expectativas dos seus leitores. Porque quando fazemos algo MUITO bom, as pessoas passarão a esperar de nós nada menos que MUITO bom, certo?

Ora, acontece que “A Cidade das Mulheres” é nada mais, nada menos do que um livro MUITO bom. Digo até mais, é um livro extraordinário. É um livro que não podia ser mais completo, desde a história, à descrição de cada pessoa, cada roupa, cada lugar, que não se tornando exaustivo nos remete precisamente para cada cenário.

Este é um livro que aborda a sexualidade no feminino, sem tabus ou preconceitos. Aborda a amizade entre mulheres e deita abaixo o estereótipo de que as mulheres não sabem ser amigas. Foi um livro que graças à escrita incrível da Elizabeth, tão leve e tão fluída me fez rir à gargalhada em vários momentos hilariantes. É um livro de mulheres, para mulheres, que devia ser leitura obrigatória para todas.

A Cidade das Mulheres” passa-se em Nova Iorque, nos anos 40, no período pré, durante e pós guerra. Mas não pensem que este livro será um dos típicos livros que já todos lemos sobre a Segunda Guerra Mundial. Está muito longe de o ser.

Conta a história de Vivian que após ser expulsa da universidade é mandada pelos pais para Nova Iorque, para viver com a sua tia Peg. A sua tia gere um teatro decadente e a necessitar de remendos e mais remendos e uma força extraordinária para se manter de pé. Falamos do Lily Playhouse. Mas é naquele teatro velho que Vivian descobre o significado da palavra “Casa” e percebe que nem todas as famílias são de sangue. É naquele teatro velho que Vivian se descobre como mulher. Como adulta. Que percebe o peso das nossas ações e aprende com as consequências. A guerra também acaba por se fazer sentir em Nova Iorque, mas não foi por isso que Vivian deixou de viver a noite até à última gota ou cada bar até ao último rapaz. Vivian não era a mulher socialmente correta que se esperava que as mulheres fossem na década de 40 (ou que, verdade seja dita, ainda se espera que sejam). Vivian estava a descobrir-se.

É muito raro um livro fazer-me sentir assim, mas a Elizabeth conseguiu fazer-me conhecer, sentir e gostar de cada personagem, de cada uma delas. E tornou-as tão, tão completas. Até aquelas que apareciam mais fugazmente.

Que livro incrível! É tudo o que posso dizer!

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Livro “A Patrulha da Linha Púrpura”, a verdadeira face da Índia

14 Setembro, 2020

Nunca fui à Índia, mas é impossível não ter ouvido falar do Taj Mahal, das tão aclamadas chamuças ou dos bonitos sáris que servem de veste para tantas mulheres. Mas infelizmente, não é isto que é a Índia. A índia veste-se de pobreza, de crime, de tráfico de crianças. Estima-se que todos os dias 180 crianças desaparecem na Índia. O motivo? São tantos… Escravatura, tráfico de órgãos, prostituição, pornografia infantil. E acho honestamente que só uma escritora indiana seria capaz de trazer até nós esta parte da Índia que tantos se recusam a ver.  Esta Índia feita de bairros de lata, não romantizada por uma visão turística e cega daquilo que é de facto a realidade.

Também neste bairro de lata indiano que nos é apresentado no livro, várias crianças desaparecem. Mas é um acontecimento tão banal pela Índia que a polícia nada faz. É assim que três amigos, inspirados pelas séries de detetives que viam na televisão, decidem fazer a sua própria investigação e partir à procura dos amigos.

É um livro muito bem escrito, narrado por uma das crianças o que lhe dá uma perspetiva inocente e bonita de um mundo que consegue ser tão feio.

No início a história tinha uma componente mais descritiva (mas que também era necessária para entrarmos num ambiente tão diferente do nosso), e consequentemente, demorou a “desenrolar-se”. Acho que foi a principal razão para não me ter prendido logo desde o começo. Mas considero um livro acima de tudo necessário para todos, mas com especial enfoque aos que gostam de viajar e aos que um dia gostariam de ir à Índia. Porque a Índia é muito mais do que o que se vê nos lugares turísticos onde tendemos a ir. E se queremos ser viajantes conscientes também nós devemos evitar cegar face a uma realidade tão presente à nossa frente.

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